quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Disponibilidade

De uma disponibilidade incrível. Querendo criar algo que não vem de jeito nenhum. Com as costas cansadas, os dedos pregados um num outro feito uma pata. Nada aconteceu. Não passei, tenho dívidas negociáveis com uma terceirizada. Também estou devendo à operadora de telefone. Meus chegues sendo devolvidos, o café é italiano. Tenho um roteiro, onde ele está? Solta meu cérebro, solta pra mim. Nada. Pensando seriamente em voltar a dar um pouco de trabalho em casa, porque na casa dos outros já está ficando complicado. Sonhando com pessoas amadas que há muito não fazem mais parte do contexto. Não há o que fazer e tudo me dá preguiça. E o amor? Anda em rotina, entorpecido em diárias. Um acolhedor cubículo 2 x 2 serve para me confrontar imediatamente com a realidade, eu, que sempre preferi a fantasia.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Edileusa Cotonete e Maria Diocleciana se encontram

Edileusa Cotonete gosta de ler com a geladeira aberta. Ela vai nua, puxa uma preguiçosa e deita na frente da geladeira aberta. Gosta de ler quadrinhos Marvel e usa uns óculos imensos para onde quer que vá, pois tem um certo asco da sociedade. Edileusa não teve peitos com facilidade não querida, ela pagou cada miligrama de silicone e quer mantê-los sob a proteção do ar refrigerado. Mas ela hoje teve que esquecer seu momento de diva na geladeira porque sabe que aquela manca horrorosa vai aparecer a qualquer momento pra questioná-la e ai ! Hoje não, Edileusa não está afim. Quando a porta se abriu e veio aquele vento Edileusa Cotonete ficou observando divertida enquanto Maria Diocleciana esperava sem nem avançar pela porta. Claro, que lindo, essa manca ainda por cima quer se passar por esperta. Maria Diocleciana calmamente pegou seus ratos de estimação com rodas e deu um sinal com a língua. Os ratos entraram pela porta de Edileusa Cotonete que obviamente tem horror a bichos peludos de olhos vermelhos com rabos de couro e doenças cardiovasculares.
- Alto lá. Tira esses ratos daqui Maria Diocleciana!
- Então você precisa aparecer aqui fora pra me responder.
- Não saio sem estar montada querida, entra logo que vou desligar o ventilador. Ai que vida sem glamour.
Maria Diocleciana terminou de tomar o café todo. Engoliu os ovos e lançou:
- Por que não Mariana? Eu poderia me chamar Mariana com tranquilidade. Ou Ana. Por que Maria Diocleciana?
- O que mata é o Diocleciana né?
- É demais. Eu tenho vontade de matar pessoas.
- Mas o seu nome é travesti mulher, pensa bem, Diocleciana é um nome que não se esquece.
- Sim, ainda mais que preciso sempre ficar repetindo. Eu nunca tenho o prazer de ser compreendida de imediato quando respondo meu nome. É sempre seguido de Han?
- É porque você não fala direito querida. Você precisa valorizar cada sílaba, dar uma chiada em algum ponto ou uma abertura entende, Dioclexxiana.
- Ora pelo amor de Deus, Dioclexxiana é muito pior.
-Então, chegamos num concenso, consulta encerrada.
- Mas isso não pode ficar assim!
- Assim como? Quer mudar de nome muda, mas vai ser um saco porque sempre vai ter dois ou mais nomes. Você não pode por exemplo mudar o nome para Ana Paula, olhando pra você ninguém acreditaria em Ana Paula, ainda se fosse Diorigenes. Laura Diorigenes seria interessante.
- Mas eu não quero mudar de nome.
- Não?
- Não.




quarta-feira, 25 de agosto de 2010

The way you make me feel

Falou tanto sobre ele que ficou intoxicada. Saiu cuspindo as feridas dele pelo chão. Lembrou dele olhando pra ela com uma cara de louco e de procurar nos olhos dele algum resquício de amor e não encontrar nada ali. Um buraco negro vazio e cheio de ódio que saía dos olhos dele. Lembrou da faca na mão dele e dos punhos machucados cobertos por um curativo. Lembrou tanto que ele esteve ali e por mais que quisesse procurar as coisas boas para contar, as coisas ruins pareciam tão fortes e tantas! Porque as coisas ruins são tão fáceis de nos marcarem, por que se potencializam tanto? Ele também comprou um presente pra ela no dia do aniversário de outra pessoa. Ele também cozinhou molho branco com macarrão. Ele também fez os desenhos do livro dela. Ele também ofereceu tanto colo e tanto amor que ela contou os seus complexos todos e se abriu com ele sobre seus defeitos. Ele comprou cds inéditos e traduziu as músicas favoritas dela. Ele era o ombro e a alegria e como pode acabar e virar uma coisa suicida e horrorosa? Gostaria de acessar a beleza do amor deles de novo, mas ficou preso no tempo quando a inocência acabou.


sábado, 7 de agosto de 2010

O exato

Nesse exato momento eu preparo o momento. Pronto! Ela canta Padam, padam, padam...no exato momento da felicidade simples faço uma oração cantada. Quando tudo vai bem quase nunca escrevo. Porque a alegria é vivida, tem que ser exaurida, mas no exato instante eu resolvi que os autores compartilharão a alegria com o mesmo poder com que compartilham a tristeza. Decidi agora mesmo e todos eles o farão. Tenho poderes etnocentricos. Você consegue sentir? O autor brinca de ser Deus. Essa frase não é minha. Eu usurpei. É do meu amigo Rafael que no exato momento faz uma prova . Eu insisto na oração cantada. Olha lá "Rappelle-toi tes amours, rappelle-toi puisque c'est ton tour 'y a pas d'raison pour qu'tu n'pleures pas avec tes souvenirs sur les bras" Os sonhos dela brilhando! Todos realizados os sonhos dela. Tenho que ir! Eu estava tão acostumada com o sofrer que sinto até a estranheza. Ouçam amigos, há momentos exatos em que tudo vai bem. Uma vez , Lisa me disse que quando alguma coisa não dava certo era porque você não estava na energia correta. Mas que quando você estava, não se sabe objetivamente como, tudo funcionava. As alegrias nunca são bem escritas como as tristezas, a não ser pelo Quintana. Despeço-me. Tenho de ir. Ouçam amigos, eu lhes desejo agora a alegria cantada. A música é curta mas eterna. Vou-me, tenho de ir.

Peripécia do dia: virar uma boneca em meia-hora.
Poesia do dia: A caneta que acertará as respostas por meio da oração que continua silenciosa após a música.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Maria Diocleciana questiona seu nome

Maria Diocleciana resolve que hoje vai cobrar uma explicação cabível para seu nome. Então ela acorda, prepara o seu café com ovos e se dirige para a rua. Uma xícara na mão e os ovos, dois ovos, na outra. Ela caminha e por conta de sua perna manca, o café vai caindo e queimando o braço dela. Ela percebe mas não liga pois pelo menos é alguma coisa quente. Maria Diocleciana caminha ao redor da praça onde os meninos de 12 anos jogam futebol de salão e eles todos começam a gritar quando ela passa, mas hoje ela não tem paciência pra jogar futebol- ela joga na zaga- e passa reto pois está determinada a falar com a responsável por esse nome sem pé nem cabeça. Quando Maria Diocleciana pára, está em frente a uma casa de muro baixo, pintada de verde, cheia de crianças catarrentas brincando na área. Ela sente um pouco de medo pois quem sabe que nó aquela que está indo encontrar dará na sua cabeça dessa vez? Bem, ela bate na porta que se abre antes de ser tocada com um vendaval digno de ventilador gigante armado por trás. Na verdade Maria Diocleciana já conhecia bem aquele truque de Edileusa Cotonete de deixar um ventilador ligado atrás de todas as portas para que quando ela aparecesse fosse sempre cheia de frescura. Mas como disse, quando a porta se abriu só estava o vento e ela entrou lá se perguntando que tipo de armadilha seria aquela.

peripécia do dia: juntar Edileusa Cotonete com Maria Diocleciana.

poesia do dia: Manoel de Barros.

Uma chuva é íntima
Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas;
Se aparecem besouros nas folhagens;
Se as lagartixas se fixam nos espelhos;
Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores;
E o escuro se umedeça em nosso corpo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Maria Diocleciana hoje.

Maria Diocleciana só tem uma perna e manca da outra. Coleciona vários ratos de estimação com rodas que os tornam velozes como um carrinho de pressão. Maria Diocleciana tem medo do Betão por conta dos seus cabelos grisalhos- enrolados- e- grandes. A única maneira mesmo de fazer com que ela fique quieta, ela fica estática e imóvel e aterrorizada com a visão da cabeça enorme cheia de cachos duros e meio brancos se movendo em sua direção. Porém hoje, na ausência dele, Maria Diocleciana buscando controlar-se, monta guarda para puxar o cabelo de todos os meninos de 12 anos que passarem pela esquina da Igreja da Matriz, que fica ali perto do centro de Independência. Ela vai pra praça em torno de 18h, com o consentimento do sol e, quando os meninos de 12 anos começam a sair pra se juntar na praça e ouvir as músicas do álbum Thriller, ela põe-se a puxar o cabelo deles para frente e para trás 3 vezes em movimento contínuo até se acalmar. Os meninos não se vingam porque não acham confiável bater em pessoas que tem ratos com rodas. E ela faz isso para lembrá-los que aos 13 eles poderiam acusá-la de abuso sexual mesmo com toda a contribuição que ela trouxesse ao mundo. Isso por conta do dinheiro e porque nossas mentes simplesmente não estão prontas para o amor. Maria Diocleciana nunca achou um motivo convincente para ter o nome que tem, mas tem, vai fazer o quê. Dirige uma dedez verde gafanhoto e ouve sempre a Janis Joplin para se sentir normal. Quando não é dia de puxar cabelo, nem de esperar o Betão, ela gosta de ficar andando pela cidade contando os quarteirões e quantas vezes ela consegue ver o Denis e o Dudu, que são os irmãos que ela namora cada semana com um. Agora ela vai passar na frente do bar que eles dois trabalham pra ver qual deles está de plantão hoje.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Próximo e distante

Achei engraçado um comentário que vi no facebook sobre pessoas que falam sobre si mesmas, uma crítica a pessoas que acham que tem algo de interessante a dizer. Ora, como se o próprio facebook não fosse uma maneira de todo mundo falar de si! Analisemos, vejamos, você tem um perfil e fica lá postando pedaços de si, fotos, frases, comentários! Na verdade caríssimos, ninguém é interessante e poderíamos ficar todos absolutamente em silêncio. Nenhuma palavra nunca mais dita e não se perderia nada, mas o que faríamos com o tédio? Além do mais, é preciso cantar. Por isso adoro palavras, e falarei para sempre de mim, pois somos todos um. O meu mundo, íntimo, ínfimo, bactericida, está completamente desabando, perdi emprego, apartamento, por escolha, porque sou louca, mas também estou viva, não me sinto mais morta numa cadeira de plástico com rugas na barriga. Prefiro ser louca e viva. Ando hiperbolizando tudo. Não acredito no caso da promotora que torturou uma criança, e odeio o fato da mídia adorar esses casos patéticos de mortes e torturas de crianças. Há algumas noites que tenho pesadelos, sonho com mortes de pessoas amadas, com violência e com catástrofes naturais. Sonhei que o Rio desmoronava, com tsunamis, com um avião caindo direto na rua da minha avó lá em Crateús. Deve ser reflexo do meu mundo que se desfaz, meus sonhos todos pelo chão. Venho fracassando imensamente. A última festa que dei por exemplo, um fracasso, mas nem ligo, foi ótima a comemoração do erro, meu amor estava lá, alguns amigos queridos também. Uma atriz do brecha apresentou pra gente uma cena onde ela estava na cama com o namorado, mas usava um binóculo para conseguir enxergá-lo. Será que o destino das relações é esse? Ficar sempre se distanciando. A mulher no entanto que hoje me fez perguntas do tipo " mas porque você acha que minha empresa deve contratar você? " fez com que eu me sentisse muito próxima. Próxima da vaga, próxima dela, de me aproximar dela e dizer por nada, apenas me contrate pois trabalharei. Eu me sinto próxima e distante de todo o mundo.

Poesia do dia: Telefonema de Sobral de menina de dois anos para dizer: titia eu já comi chocolate e tava gostoso. Simples assim.

Peripécia do dia: Monique e eu no quartinho sem sinal de celular, tentando fazer uma tv antiga de 14 polegadas funcionar de qualquer maneira pra ver o final da novela juntas.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

As Engrenagens

A ação chocante moveu o texto, o Teatro dos Extremos resolveu encenar, comemos todos pastel de carne humana. Fiquei muito... vamos dizer, satisfeita -porque feliz seria uma palavra leviana- que não tivesse aplausos nos final, quero dizer, aplausos imediatos. Antes ficou aquele silêncio. Adoro o silêncio de uma platéia inteira ao fim de uma peça. Ele é preenchido de significados, estava todo mundo muito engasgado para ficar aplaudindo feito bobos. Ainda mais quando o tema é extremo, quando a ação é indigesta, quando a gente fica mesmo embasbacado com nós mesmos, conosco, os humanos. Posso usar a palavra feliz para as soluções da direção, vi um espetáculo maduro, com atrizes competentes, um bom texto, contemporâneo nas suas não-transições e, excluídos os descontos de uma estréia e coisa e tal, saí de lá muito tranqüila quanto ao rumo do espetáculo daqui pra frente, pois o processo sei, nunca termina. Indico, acho válido, é teatro bem executado.

Poesia do dia: As Engrenagens, com o Teatro dos Extremos.

Peripécia do dia: pegar carona com desconhecido-conhecido só pra não descer ladeira totally alone.

quarta-feira, 31 de março de 2010

coco night

E tudo que eu nao desejo mais reaparece para me testar. Quando decidimos uma coisa o contrário se manifesta. Eu to tão puta comigo mesma que não sei o que dizer, vou fazer assim, vou fingir que não sou eu, que sou uma pessoa que vejo de fora, vou criar um personagem pra mim porque não tenho coragem de ser eu mesma. Então meu nome será M. É uma peça da Marília, que eu nunca vi, só as fotos e achei lindas, sofro muito por todas as peças que nunca vi, não preciso de nada para sofrer, eu sofro por puro prazer, como fazer com tudo que não posso. Será que vou ser confusa pra sempre, pra sempre não que isso nem existe. O nome desse tipo de escrita sobre a ótica da escrita contemporânea é algum nome em francês que tem a ver com narcisismo, ou escrita narcisista. Quando comecei a estudar uma coisa pra mim, comecei a estudar junto tudo que eu queria pra mim, e agora to louca, sem saber a que me dedicar. Eu quis fazer um parágrafo agora, exatamente aqui. Sabe que aprecio escrever aqui pois alguém me lê. Não estou escrevendo um livro, eu já escrevi dois e não deu em nada. Então agora escrevo aqui porque sei que o Sérgio lê. Não consigo mais retratar a porta, perder a linha de raciocínio é uó. Hoje gritei para a porta " quero que você fique fechada" gritei debilmente e como não tinha chave veio o vento e abriu. Nâo tenho mesmo controle sobre porra nenhuma no universo, nem na minha porta , hoje macaco velho me disse as pessoas que sabem pra onde vão, que tem certeza, normalmente estão ali porque alguém escolheu por elas, porque elas preferiram que alguém escolhesse por elas e são certas porque se fecham naquilo e não sabem fazer mais nada. Fiquei sem saber se estava confortada ou confrontada.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Noite com Grotowski

Fiquei sabendo pelo facebook que no Instituto dos Atores estava rolando um encontro todas as quintas, ministrado pela professora Celina Sodré sobre Grotowski, e bem, como o assunto teatro me interessa, e como Celina foi responsável por uma mudança significativa no meu pensamento sobre arte e como estou em um momento de profunda busca, fui. O texto que ela leu hoje foi uma conferência que Grotowski realizou dois anos antes de morrer, e bem, falava sobre se ter maestria. Que o coração sozinho é uma merda, que as boas intenções sozinhas não servem para nada. Ou seja, você pode ser muito legal, mas se não executa sua arte com precisão é melhor ser um bom espectador. Falava sobre o artista que percorre o caminho horizontal e o que percorre o caminho vertical, um que não se desenvolve realmente, que até realiza atos que são como fogos de artifício, como a contra-cultura nos anos 60, que causou um alvoroço e desapareceu rapidamente (segundo ele por falta de competência) e o outro que percorre um caminho de escavação, de fragmentação e crise. Que nossa vida contudo não nos basta, com nossos pais, com se livrar dos nossos pais e tudo que eles nos deram, com a sobrevivência, que tudo isso, não basta e que o que há além se torna ou religião, ou cultura. Por mim prefiro a cultura pois sou como Saul e acredito que as religiões deveriam ser extintas pois elas causam segregação muito mais que união e nossa fé sim, que sempre exista. As aulas da Celina são sempre como socos no estômago para os diletantes e os pseudo-artistas. Falou-se muito sobre técnica e especialização em algo para se atingir maestria. Comparei com medida cautelar e tutela antecipada, misturei com aula de canto, de corpo, com ler o teatro contemporâneo e vim vomitar por aqui com o único intuito de que tudo não se perca em mim.

Peripécia de hoje: Correr de um assaltante enquanto falava ao telefone e pensava em fazer uma outra tatuagem.

Poesia de hoje: Do Neruda, no pocket comprado para distrair o tempo: Cem Sonetos de Amor

" VIRÁS comigo" disse, sem que ninguém soubesse
onde e como pulsava meu estado doloroso
e para mim não havia cravo nem barcarola,
nada senão uma ferida pelo amor aberta.

Repeti: vem comigo, como se morresse,
e ninguém viu em minha boca a lua que sangrava,
ninguém viu aquele sangue que subia ao silêncio.
Oh amor, agora esqueçamos a estrela com pontas!

Por isso quando ouvi que tua voz repetia
"Virás comigo", foi como se desatasses
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado

que de sua cantina submergida soubesse
e outra vez em minha boca senti um sabor de chama,
de sangue e cravos, de pedra e queimadura.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O provedor de alegria

Quando ele vem, normalmente está sorrindo e te dá um abraço gostoso. Desses que te tocam se você tiver uma natureza sensível. Nem sempre ele tem o que dizer, então ele fica calado mesmo. Não há constrangimento nisso. Há silêncio. O provedor de alegria não pratica atos de vilania, ele segue se defendendo na vida e o que ele emana é sempre bom, porque ele emite o bem. As coisas boas que acontecem na vida do provedor são todas conseqüências de seu sorriso, de seu comportamento, de sua busca. Não há espaço para inveja e quando ela aparece ele usa um colar de alho em algum lugar. Para afastar as energias ruins não dos outros, mas de si mesmo. Ele é alvo da inveja pois todos aqueles que optam pelo amor são alvos dela. Ele é atingido e nisso está sua beleza. A de ser atingido e realizar a mutação da energia em sorrisos. O provedor de alegria enxerga luz nas menores coisas, toda beleza se converte em arte, todo momento se converte em possibilidade. Os humanos em geral não estão prontos para o provedor de alegria. A compreensão é feito uma estátua sem braços. Eu conheço um provedor de alegria. E sempre que ele entra, meu coração se acalma porque o que ele trás é de amor.

segunda-feira, 1 de março de 2010

O que você quer

Você precisa decidir sobre o que você quer, eles dizem. E dizem e dizem. O mundo está acabando mesmo, fisicamente, o mundo está fisicamente acabado, vamos deixar de ser matéria? Eu não sei o que é melhor pra mim. Algumas vezes eu acho que sei, mas aí acontece de ficar sem dinheiro nenhum e as implicações que isso traz. Pensei o Brasil está lidando com a crise agora, quando o setor de classe média emergente volta a ser pobre e os pobres passam a se unir aos miseráveis. Quando médicos passam o parto brigando por seus egos e bêbes morrem. Mudo de idéia toda hora sobre a minha vida com sonhos românticos. Hoje na França, ontem no Chile, Portugal. Isso está influenciando nossa vontade de fazer de nossas vidas menos que uma merda. Hoje eu preciso estudar pra virar escrava e sobreviver, mas e quando você quer viver? Como é que você faz? Navegar é preciso, viver não é preciso? Nunca entendi muito essa frase, como navegar poderia ser mais importante que viver mesmo no sentido metafórico da coisa? Eu gostaria de ter uma vida tranquila. Não precisar de grandes prêmios, mas de grandes momentos de mim, e de natureza. Por isso o Rio é bom, porque tem refúgios de natureza. Mas acho que quando o mar invadir por aqui vai se acabar tudo. O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão. Hoje estou cheia de frases feitas cotidianas de poeta. Faço qualquer coisa pra não estudar direito, é impressionante, até estudo outras coisas. Acho que vou morrer. Quis acessar a tristeza e li Augusto do Anjos, acessei mesmo, é um canal de tristeza aquele poeta. Como Allysson dos Anjos é um canal com a melancolia. E com a música também, a que abriu as portas pra mim. Não fique com raiva da mamãe não que ela está lhe falando a realidade. E falou com aquele tonzinho cínico, emendado com uma tentativa de amenizar a raiva. Audácia da carrapeta. Você precisa decidir o que você quer, disse o meu pai. E eu pensei nos Engenheiros do Havaí.

Peripécia de hoje: lidar com o fim do mundo e a continuidade absurda de suas inesgotáveis questões sociais.

Poesia de hoje: pintar uma mão, ouvir quatro músicas.


sábado, 13 de fevereiro de 2010

As incríveis aventuras de Edileusa Cotonete no Canadá

Edileusa Cotonete precisava de uma graninha e arrumou um intercâmbio para o Canáda. Foi trabalhar linda lavando privadas e esfregando o chão enquanto estudava horrores inglês para botar peito e ficar gostosona. Um dia Edileusa foi trabalhar num studio de cinema e qual sua surpresa quando viu um sapato, uma blusa e umas gravatinhas. Não se controlou, não se controlou, fez a "eusa" escondendo tudo num saco de lixo e depois deixou o conteúdo ilícito na casa de uma amiga, dizendo óbviamente que sua casa estava sendo detetizada. Dois dias depois começaram os problemas na vida de Edileusa. Os guardinhas foram buscá-la no cursinho, para mero interrogatório e claro, Edileusa Cotonete negou. Mas a polícia estava dominada por uma certeza alucinante proporcionada por uma câmera que por acaso estava no stúdio e Edileusa foi presa imediatamente e jogada no camburão. Até aí tudo bem pois ela considerou o fato como normal, ser presa, uma questão de respeito para qualquer mulher , e imaginava-se respondendo quando as amigas perguntassem por onde esteve Edileusa? Ah, eu tava presa. Um luxo. Na delegacia soltaram Edileusa numa cela com as outras delinquentes enquanto aguardava os trâmites . Tratou logo de fazer amizade e ceder seu prato para a mulher de corte de cabelo militar ao seu lado que perguntou se Edileusa estava com muita fome. Nesse momento o guarda convidou Edileusa a confessar que tinha praticado furto, um furtinho de nada, mas Edileusa, mulher de uma palavra só, manteve-se firme na negação. Foi então levada para a prisão enquanto aguardava julgamento. Esse momento foi crucial na vida de Edileusa no Canadá, memórável e enfim, debulhada sob um vale de lágrimas, observava a chegada das detentas tatuadas, que tinham sido fichadas mil vezes, até que chegou uma muito sutil, que para fazer amizade com Edileusa, passou a mão em sua buceta, levou a mão ao nariz e disse simplesmente: fish. Agora senhoras e senhores o que leva um ser humano a praticar ato assim não sei, mas para Edileusa aquilo foi um divisor de águas e ela levantou seu dedinho berrando fui eu, fui eu que roubei o sapato, a blusa, fui eeeeeeeeeeeeu! Foi educadamente convidada a devolver os pertences, retirar-se do emprego e no mesmo dia foi deportada para o Brasil, sem sapatos canadenses. Mas do Canadá Edileusa trouxe memórias que nenhum país poderia superar, e além de tudo, várias gravatinhas nunca descobertas. Fish!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Aos amigos

Já dizia Blanche DuBois "eu sempre dependi da bondade alheia". Quando era crianca , meu pai me chamou no canto e disse "filha nossos amigos, depois da nossa família, são a coisa mais importante do mundo, muitas coisas nessa vida você só conseguirá se tiver amigos". Então como toda filha de seus oito anos apaixonada pelo pai, achei que isso fossa a lei mais importante do mundo. Tentei sempre ser a melhor amiga que pude, nem sempre eu consegui e vacilei inúmeras vezes com meus amigos, mas trago no peito uma gratidão por todos aqueles que se comportaram como amigos e sigo com essa máxima em minha vida. E observando bem, praticamente todos os meus sonhos eu só realizei com a ajuda da bondade alheia. Portanto essa postagem de hoje não tem propósito outro que não seja dizer obrigada aos meus amigos. Graças a Deus, eu tenho vários.

Poesia do dia: Vinícius de Moraes

Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Peripécia de hoje: De um outro Vinícius, esse, meu amigo que arrasa nas animações:
http://www.vimeo.com/8846201

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

As incríveis aventuras de Edileusa Cotonete

Edileusa Cotonete ao nascer descobriu-se mulher e pediu que lhe pusessem imediatamente cabelos. Que queria cabelos que queria cabelos. Depois teve todos os cabelos que quis. Hoje Edileusa Cotonete explica para o marido que não pode ir buscá-lo na rodoviária.
- Amor, eu queria muito muito, mas não sei se vou conseguir te buscar.
- Ham? Pq?
- Pq eu vou ver uma casa pra fazer show. Vou bater cabelo, vou bater cabelo.
- Oh espera, minha amiga está on-line vou te dar um pause.
Ela ficou louca e saiu gritando pelo puxadinho. Todo mundo que passou na frente de Edileusa Cotonete se fudeu. Ela saiu berrando e berrando e se mordendo louca. E depois não conseguia dormir, mas pensava " as obrigações primeiro, as obrigações primeiro". Bater cabelo era seu trabalho. Aí ficou puta, calçou um saltinho babado e confusão e se jogou no mundo. Edileusa Cotonete, ser uma diva é o seu trabalho.


Para sempre diva quem quiser que venha junto.


Peripécia do dia: Homenagear a única e absoluta Edileusa Cotonete.
Poesia do dia: ele se acabar meu Deus, ele se acabar

Adeus, viúva morta

Viúva morta, segue de preto cabelo escovado passa água de colônia passa batom vermelho ou violeta viúva morta, eu não te amo viúva m...