quinta-feira, 25 de março de 2010

Noite com Grotowski

Fiquei sabendo pelo facebook que no Instituto dos Atores estava rolando um encontro todas as quintas, ministrado pela professora Celina Sodré sobre Grotowski, e bem, como o assunto teatro me interessa, e como Celina foi responsável por uma mudança significativa no meu pensamento sobre arte e como estou em um momento de profunda busca, fui. O texto que ela leu hoje foi uma conferência que Grotowski realizou dois anos antes de morrer, e bem, falava sobre se ter maestria. Que o coração sozinho é uma merda, que as boas intenções sozinhas não servem para nada. Ou seja, você pode ser muito legal, mas se não executa sua arte com precisão é melhor ser um bom espectador. Falava sobre o artista que percorre o caminho horizontal e o que percorre o caminho vertical, um que não se desenvolve realmente, que até realiza atos que são como fogos de artifício, como a contra-cultura nos anos 60, que causou um alvoroço e desapareceu rapidamente (segundo ele por falta de competência) e o outro que percorre um caminho de escavação, de fragmentação e crise. Que nossa vida contudo não nos basta, com nossos pais, com se livrar dos nossos pais e tudo que eles nos deram, com a sobrevivência, que tudo isso, não basta e que o que há além se torna ou religião, ou cultura. Por mim prefiro a cultura pois sou como Saul e acredito que as religiões deveriam ser extintas pois elas causam segregação muito mais que união e nossa fé sim, que sempre exista. As aulas da Celina são sempre como socos no estômago para os diletantes e os pseudo-artistas. Falou-se muito sobre técnica e especialização em algo para se atingir maestria. Comparei com medida cautelar e tutela antecipada, misturei com aula de canto, de corpo, com ler o teatro contemporâneo e vim vomitar por aqui com o único intuito de que tudo não se perca em mim.

Peripécia de hoje: Correr de um assaltante enquanto falava ao telefone e pensava em fazer uma outra tatuagem.

Poesia de hoje: Do Neruda, no pocket comprado para distrair o tempo: Cem Sonetos de Amor

" VIRÁS comigo" disse, sem que ninguém soubesse
onde e como pulsava meu estado doloroso
e para mim não havia cravo nem barcarola,
nada senão uma ferida pelo amor aberta.

Repeti: vem comigo, como se morresse,
e ninguém viu em minha boca a lua que sangrava,
ninguém viu aquele sangue que subia ao silêncio.
Oh amor, agora esqueçamos a estrela com pontas!

Por isso quando ouvi que tua voz repetia
"Virás comigo", foi como se desatasses
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado

que de sua cantina submergida soubesse
e outra vez em minha boca senti um sabor de chama,
de sangue e cravos, de pedra e queimadura.

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