terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ego


Amassava morangos com cuspe. Apalpava com muita lentidão e asco do tubo. Cuspiu, amarrou a trança no pescoço e enlouqueceu gritando. Se pudesse matá-la faria lentamente, violentamente e definitivamente. Inferno.

Dirty Diana

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dentro



Eu e ela sempre fomos uma fumaça embaçada, ela e eu sempre tão soltas quanto presas uma à outra e uma da outra. Tudo sempre ficou meio turvo porque eu, desde que me entendo por gente, estava no meio da queda d´agua entre os dois. Se cada um é para o outro o que doou, então o amor sem dúvida estará ali, todo rasgado e firme.
Toda a revolução está na minha voz, na minha mente me paralisando torta, muitas vezes. Eu fico em dúvida onde nasceu, lá ou cá. Mas não estou disposta a escavar isso loucamente. Acho que eu não conseguiria desembaralhar tudo isso. Eu fico feliz com o arco-íris. Eu estou dentro dele, onde for. Eu vejo vultos pela casa do que era, do que poderia ter sido e do que é.

domingo, 28 de outubro de 2012

Manchado


Você cortou os pulsos e desceu ensangüentado. O seu sangue ainda está escorrendo em mim. Tenho umas presas verdes bem brilhosas caindo de meus cabelos.
Someone on the dark.
(Esquecia e lembrava de qualquer pureza de um dia deles. A melhor coisa da vida: estar com ele, sentados na ponte no meio do mar, trocando pelo sol olhares e toques de amor).
Hoje tem uma mancha no meu sol. Uma manchinha linda branca. Mas o resto, de que cor ficou?
Você sempre me curou de todas as dores, exceto da que me causava.

Dirty Diana, noite de música triste, outubro 2006.

sábado, 27 de outubro de 2012

Pequeno conto do amor perdido


Não entendia porque sempre crescia mais pele. Uma pele ia caindo sobre a outra formando uma cascata. Não sabia que gosto tinha, mas sentia o cheiro.
Gostava.
Esfregava no nariz os dedos para sentir o cheiro. Bonito não era, mas era forte. Tão forte que algumas vezes até parecia bonito. Não sabia onde ele estava hoje. Não se importava tanto. Parecia que tinha uma obrigação de se importar, mas no fundo nem ligava, estava sentindo o cheiro. Será que algum dia a pele ia parar de cair?

Madrugada quente no Rio, outubro de 2006.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Só isso.


Só isso, apenas isso: estava fazendo.
Chegava de madrugada porque estava fazendo. Deixava o cabelo feio e despenteado porque estava mostrando. Ouvia música sempre, mesmo quando fazia no silêncio ou com muito barulho. A frutinha ficou completamente esmagada.
Não pensou em mais nada. Acabou.

Dia claro, outubro de 2006.

Observo a vida de fora.



Não se comunicava. Não pretendia interagir com os outros seres humanos. Ela poderia fechar as portas, por favor? Eu poderia me trancar no grito insano que sai da outra sala. Inumano-humano-todos-nós. Eu caminho cheio de ondas de panos coloridos. Estou muito bem trancafiada em mim. Em momentos assim gostaria de correr. A arte não deixa de deturpar nossa alma. É uma forma de mostrá-la em fragmentos. Sentia sua alma toda misturada não sabia de quê. A caneta soltava tinta. A tinta grudava em seus dedos e os deixava sujos. Ela os esfregava no nariz para que ficassem limpos. É possível. Não falava sobre nada.
Não sou uma alma boa. Não sou ninguém.

Noite, agosto 2006.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Pequeno Conto de Decepção


Podia escrever sobre ele entrando pela janela meio leso. Falar que ele entrou sem um beijo, sem um único toque, quase como se estivesse fazendo um favor. Ficou apoderado do quarto dela, ele todo de lama. Ela fechava as portas e as janelas e ele expelia pus. Estava tudo enlameado e ainda assim ela se injetou na veia para ficar lesa também. Deitou e o abraçou, mas ele era de lama. Para evitar que ele se desmanchasse ela o engoliu e morreu.
Noite fria, setembro de 2006.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Absurda (o)


Cresceu no velório. Navegou numa poça de sangue. Subiu com as baratas até o topo, nem caiu, ficou lá pulando, depois desceu intediada (o). El sabe que é com e - entediada, mas escreve errado para chatear. É capaz de fazer assim: [intediada] Hhaushaushashauaahuaha. Ri com linguagem de internet porque cansou de ter que ser. O mundo todo deveria ser.
A... mão... casou.
Isso passa, as mãos se dão e vão a segunditos pequeninitos de tempo. Agora sim, cansou a mão.
Criou um codinome porque não poderia ficar sem assinar. Ele sempre assina.

Dirty Diana.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Enfim, a coragem.

É assim, eu estou num momento de aprender a divulgar meus trabalhos,  tendo isso em vista, em 2006/2007 eu escrevi um livro que deu origem a uma peça chamada Fragmento.ponto.alma, essa peça foi minha estréia como atriz profissional, junto com meu grupo e ela me gerou  apresentações em 2008 ( Curitiba), 2009 e 2011 ( Rio de Janeiro). Agora eu vou publicar aqui o livro, são pequenos contos e longas poesias. Você pode ler e se gostar, mostrar pra quem você quiser. Tenho dito e muito beijos. Ele começa assim ó:


Fragmento.ponto.alma


Pequeno Conto do Desejo

Encostou-se a ele inteiro na porta, cada desejo do seu corpo derretendo em bolinhas de suor. Tomou ácido com a língua e depois recebeu dos lábios dele o selo da dor. Ele a conduziu delicadamente pela sala no meio dos abutres e a protegeu de longe. Ela sentiu as próprias pernas macias e escorregou pelo colo dele e os cheiros e sabores pareciam concentrar-se exatamente ali. Dentro do abraço dele, feito uma criança indefesa protegida por aquele tão louco quanto ela, finalmente um mais forte que ela. O ácido a fez ver o desejo cheio de maciez. Quando o beijo veio novamente, eles tocaram as línguas e o abismo se abriu convidativo. De olhos fechados se viu caindo em espuma grossa e fofa, mas havia um grito de dor. “Não, eu não posso”, ela disse muito mais pra si do que para ele e fugiu.

Noite de setembro-tédio, domingo parado, sem violão. 2006.



Adeus, viúva morta

Viúva morta, segue de preto cabelo escovado passa água de colônia passa batom vermelho ou violeta viúva morta, eu não te amo viúva m...