sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Adeus, viúva morta

Viúva morta,
segue de preto
cabelo escovado
passa água de colônia
passa batom vermelho
ou violeta
viúva morta,
eu não te amo
viúva morta,
no dia em que você morreu
eu estava sorrindo
Viúva morta , vai!
usa brincos compridos
usa botas
bebe cerveja
no céu só tem cerveja preta e barata,
como as do Drummond
Viúva morta,
para sempre serás viúva
pois quando ele morreu  ainda estava vivo
e viúva de homem vivo
quando morre
vai pro céu
vários anjos te recebem
tiram-lhe a mortalha
vão te oferecer  vestidos estampados
cheios de luz
e você dirá:
devolvam-me o preto
devolvam-me o vermelho
meu sapato de bico fino
meu lugar não é aqui.
E cairá dos céus
e assim que descer perguntará ao capiroto
onde está o blues?








terça-feira, 6 de janeiro de 2015

rosa confessa

Minha escrita se despedaçou
foi atingida pelo vazio
depois pela vaidade
não que eu me achasse boa, eu sou uma qualquer
mas qualquer uma tem seus brios
Ai, tantas críticas, tantos julgamentos, ai,
mais amor, mais amor, mais amor
caótico mundo meu
nosso universo nuvem,
tem uma nuvem cibernética que sabe o que eu gosto
muitas vezes eu sou o contemplar
Poeta, onde você está?
Poeta, só você pode me salvar...

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Heautontimoroumenos

À J.G.F.

Sem cólera te espancarei,
Como o açougueiro abate a rês,
Como Moisés à rocha fez!
De tuas pálpebras farei, 

Para o meu Saara inundar,
Correr as águas do tormento
O meu desejo ébrio de alento
Sobre o teu pranto irá flutuar

Como um navio no mar alto,
E nem meu saciado coração
Os teus soluços ressoarão
Como um tambor que toca o assalto!

Não sou acaso um falso acorde
Nessa divina sinfonia,
Graças à voraz Ironia
Que me sacode e que me morde?

Em minha voz ela é quem grita!
E anda em meu sangue envenenado!
Eu sou o espelho amaldiçoado
Onde a megera se olha aflita.

Eu sou a faca e o talho atroz!
Eu sou o rosto e a bofetada!
Eu sou a roda e a mão crispada,
Eu sou a vítima e o algoz!

Sou um vampiro a me esvair
– Um desses tais abandonados
Ao risco eterno condenados,
E que não podem mais sorrir!

domingo, 22 de dezembro de 2013

A conversa com os meninos de 12 anos

Desceu com tristeza e tédio e foi procurar um lugar tranquilo para acender seu cachimbo, longe de todos. Estava lá, tranquila quando viu os três meninos na trilha que chegava até ela e acompanhou com o olhar os três. Eles vinham desconfiados e olhando para todos os lados e ela sentiu o cheiro de perigo, mas não tinha medo de crianças, ainda mais de 12 anos. Eles passaram encarando ela e olhando pra trás, ela os encarou e olhou junto com eles pra trás e inexplicavelmente os 3 garotos e ela sorriram ao mesmo tempo. Eles passaram, conferindo se tinha alguém na outra ponta também e voltaram até aonde ela estava sentada. De longe, um deles perguntou:
- Ei, você viu dois meninos passarem por aqui?
- Dois meninos? Não, desde que cheguei aqui não passou ninguém.
- É legal aqui, só é perigo alguém te assaltar, não é?
Disse o que parecia mais velho, o pretinho. Agora todos estavam na frente dela, com certa distância e desconfiança:
- Não, mas hoje estou com Deus, nada acontecerá comigo.
Eles se aproximaram e sem explicação aparente sentaram perto dela.
- Vocês moram aonde?
- Na rua do fim.
- Rua do fim? Que nome estranho pra uma rua.
- É porque lá não tem saída.
Disse o mais bonito, que parecia o do meio.
- Vocês são irmãos?
- Não, só amigos.
- E a idade de vocês?
Todos responderam 12.
- Vocês estão mentindo ou é verdade e os 3 tem 12?
Eles riram e confirmaram os 12 anos.
- Tu quer uma manga?
Perguntou o mais novo.
- Essa manga é da boa, daquelas que você bate na parede, não é? Aonde vocês pegaram?
- Ali atrás, tem uma mangueira.
Ela riu.
- Eu quero. Vocês estavam roubando manga?
De repente o que parecia mais novo ficou muito incomodado. O do meio levantou-se pegou três pedaços de azulejo. O pretinho mandou:
- Isso não serve pra nada.
- Mas corta!
- Vocês namoram?
Eles riram.
- Não, vocês são muito novos pra namorar.
- Ora, se a gente já pega é as meninas. Tu mora aqui perto?- disse o mais novo.
- E porque você está aqui?
- Sim, do outro lado. Minha mãe estava doente, estou aqui porque não quero fumar na frente dela.
- O que ela tem?
- Ela teve um avc, sabe o que é isso?
O do meio imediatamente disse que sim.
- É, coisas ruins acontecem o tempo todo.
- Vocês moram com os pais?
- Minha mãe me botou pra fora de casa- disse o pretinho.
- Mas quem é tua mãe mesmo, é a Rosa ou a Maria?- quis saber o bonito.
- Quem me teve foi a Maria, mas quem me cria é a Rosa.
- Todo dia matam um na nossa rua.
- Como assim?
E o mais novo começou a contar a história.
- O cara tava dirigindo o carro e a menina veio na frente, ele não conseguiu frear e bateu nela. Ele pediu desculpas. Depois ele voltou lá porque tinha esquecido a bicicleta, ele veio com um facão porque achava que iam fazer alguma coisa com ele. E aí um dos caras da família da menina pegou um revólver e matou ele.
- Nossa, mas aconteceu alguma coisa com a menina?
- Não.
- Mas então a reação dele foi exagerada. Vocês são muito novos pra passarem por isso, vocês já viram crimes! É um mundo aonde acontecem muitas coisas ruins. A gente é que precisa se manter forte pra não ficar ruim também.
Nessa hora o que parecia mais novo levantou-se.
- Que horas são?
- Não sei.
- Olhaí no teu celular.
Ela tirou o celular da bolsa e falou as horas. Ficou olhando pro mais velho. O mais velho também era belo, com sua cor morena. O bonito disse.
- Você gostou dele, não foi?
- Sim.
- O que você fez pra sua mãe te por pra fora?
- Ele faz umas coisas! Ele fuma cigarro, fuma até maconha.
Ela então ofereceu seu cachimbo pro pretinho. Que aceitou e fumou.
- Fumar não faz bem não.
Ela disse e eles se olharam bem dentro dos olhos. O mais novo disse:
- Vamos embora!
- Peraí um pouco- disse o pretinho.
- É vamos ficar mais um pouco- disse o bonito.
Mas o mais novo não queria mais ficar.
- Eu já vou, eu já vou, vamos?
- Tu tem tatuagem?- perguntou o bonito.
- Sim, um own, significa o primeiro som do universo, porque eu gosto de música.
- Que música tu gosta?
- Hoje eu gosto de blues. É uma música densa, com muita guitarra, foi feita pelos negros americanos, vem da escravidão. Vou por uma pra você ouvir. Essa é a Nina Simone, ela era uma negona que fez uma revolução, sem armas, com música.
- Eu vou embora, vocês não vem?
- Eu gosto de rap americano. Quer outra manga?- perguntou o bonito.
- Sim.
- Eu vou embora, vamos?
- Vou ficar mais um pouco, eu acompanho vocês.
Então o mais novo e o bonito foram. O pretinho não foi.  Ficaram se olhando em silêncio um tempo.
- Como foi a vida da Rosa, você sabe?
- Não.
- Eu te digo isso porque isso ajuda a gente a entender as pessoas. O que fizeram delas pra elas serem como são.
- Tu tem quantos anos?
- 32. Então nossa diferença é de...
- 20 anos. Tu tem filhos?
- Não.
- Por quê?
- Porque eu só quero ter um filho quando eu puder dar tudo pra ele.  Tem muita gente no mundo, muita criança em orfanato. Eu só vou ter um filho quando encontrar um cara que queria ser pai, e talvez eu adote.
- É, tem gente que pensa antes de fazer as coisas.Você tem marido?
- Tive. Vamos embora?
- Tu já quer ir?
- Você não quer?
- Vamos conversar mais um pouco.
- Tu gosta de estudar?
Ele fez um sim com a cabeça.
- Mentira, gosta nada.
- Meu colégio só tem vagabundo.
- Mas você gosta de alguma coisa?
- Só de matemática.
- É uma saída.
- Tu estudou até que ano?
- Eu me formei. Tu já viu algum crime?
- Mataram meu amigo, eu tava sentado do lado dele. Depois o cara tentou me matar, mas a arma falhou. Eu corri e me escondi. Ele tomou um tiro no peito.
- Tu viu ele morrer?
- Sim.
- E como é ver uma pessoa morrer?
Ele ficou olhando com uns olhos expressivos.
- Normal.
- Então você teve uma arma apontada pra sua cabeça?
- Duas vezes.
- Acontece muita coisa ruim na vida, mas acontece muita coisa boa também. Minha mãe se curou. Acontece. Vocês tinham vindo aqui pra me assaltar, não era?
- Ham?
- Vocês iam me assaltar?
- Não, eu quero ficar longe disso, eu que fui assaltado esses dias, levaram meu celular.
- Nunca conseguiram me assaltar. A polícia chegou uma vez e na outra eu não tinha nada. É muito ruim, a gente sente raiva.
- Eu não sinto raiva não.
- Eu vi meu avô morrer, mas foi de doença. Não adianta você pode nascer na melhor ou na pior família, coisas ruins vão acontecer. Esse é o mundo de expiação e culpa. Deixa, to falando besteira.
- Não, fala...
- Estamos aqui pra pagar carmas e evoluir pra um plano melhor.
Ele fez uma cara de que isso fazia todo o sentido.
- Reze pelo seu amigo, ele morreu cedo, significa que ele já evoluiu. Quer dizer, não sei se isso se aplica quando te matam.
Ele riu.
- Deram vários tiros de 12 em outro colega meu. Ele não morreu, mas ficou com uns buracos assim no peito. Só porque era uma 12.
- Doze é um tipo de arma?
- É. Agora aquela família do rapaz que mataram está perseguindo ele.
- Mas aí vira uma guerra.  Sabe o que te falei sobre a matemática? Eu já morei numa rua assim perigosa como a sua, tinha tiroteio e nos escondíamos debaixo das coisas. Mas eu saí de lá. A matemática pode te tirar de lá. Você precisa estudar pra tirar sua família de lá.
Chegaram numa encruzilhada.
- Você vai pra onde?
- Você vai por aqui?
- Sim.
- Então vou com você até lá em cima.
- Como é teu nome?
- Vítor.
E subiram em silêncio até ela chegar em casa. Ela ficou com vontade de dar um abraço e um beijo nele. Mas disse apenas " thau Vitor, foi um prazer te conhecer". E entrou com duas mangas nas mãos.






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domingo, 6 de outubro de 2013

Manifesto de amor usurpado de Edileusa Cotonete

- Eu descobri que tens um novo amor! Eu sei o nome! Tem  pulmão, respira! Tem boca e te beija! Tem corpo  e contigo dorme!Tem cor, tem altura e peso, teu novo amor! Ai, sangue que escorre de mim! Teu novo amor! E tão rápido tudo que desejei, no colo de outra, e tão rápido tudo que nem foi meu, já é de outra? Você outra, que usurpou meu amor, meu amor é tão lindo, como não ceder aos seus encantos? Mesmo assim é meu e todas aquelas que tiveram seus amores usurpados por uma época, por uma fatalidade ou por uma vagabunda sabem muito bem, o que é de César, volta a César e o que é amor, se configura em amor, e não pode ser de outra forma. Uma vez que é meu amor, sempre será e  para mim voltará. Beribecancatabanda, beribecancatabanda, beribecancatabanda, KIKERA!

domingo, 25 de agosto de 2013

Os 32 anos de vida

Esse ano eu encarei a chegada do aniversário com cautela. Tentei passar despercebida. Mas estou aqui escrevendo sobre eles, os 32, pois para mim nunca me parecem suficientes os momentos. Em alguns aspectos a minha racionalidade e meu coração estão exaustos de tanto divergirem. E meu duplo já passou por algumas panes, quedas e consertos.
Estamos mais próximos do que queremos ser na década de 30?  Eu ouvi que aos 30 sabemos com precisão quem somos. E nessa véspera de aniversário, um dia  não sei exatamente provocada e atravessada  por quais acontecimentos terríveis, acordei lúcida como se já tivesse passado minha vida toda e soubesse cruelmente de tudo antecipadamente. Não tenho medo da vida. Tenho medo do amor não voltar pra minha vida, mesmo que quando apaixonada  me sinta apavorada e sempre pisando em chão de fogo.
Nunca achei que a vida seria felicidade eterna, não acho a felicidade possível se todos somos responsáveis por tudo e se, em milhões de anos, a humanidade nunca conseguiu avançar sem oprimir, destruir e escravizar, seria muito improvável que justamente na minha existência, na época ínfima historicamente em que eu faria parte desse mundo, que a humanidade encontrasse a utopia. Mas a minha avó tem uma teoria que achei mais inteligente aplicar à minha vida: a de que ela, a vida, há que ser de alegria. Então por piores que sejam as notícias, encontrarei no final do arco-íris um amigo para brincar.  Na verdade isso é o melhor desse texto, agradecer aos amigos, pois tenho amigos que são como jóias raras e maravilhosas. A propósito, obrigada.
Aos 32 acho minha vida uma bagunça, não encontro solução para minhas questões,  tudo que achei que estaria estabilizado nessa idade está pendente: minha carreira, minha saúde, minha família, meu amor; e ao mesmo tempo, sei de tudo. Sou o próprio Deus  e estou  tranquila, como se acordasse de um sono de remédios brancos.

domingo, 14 de julho de 2013

O rosto

      Meus olhos não sentem tua imagem cerrada e cortada em pedaços histriônicos.  Meu coração não bate na tua cadência , por mais que eu tente, recomece e insista. Não  me dê o rosto! Prefiro um capuz cinza e azul.
      Vou-me em boa hora. Eu vou rápida e tranquilamente cuidar dos meus, juntando pedaços de mortes refinadas. Contorcida, amei dois que estão em outros braços. E agora tenho nomes e rostos. E o meu amor? Não me dê um rosto! Você quebrou a perna e ficou ali me culpando como se não tivesse acabado de quase me matar. Corri antes de você. E o meu amor? Entendi antes de você. Aonde enterrou seu amor? Não posso mais. Sou frágil. Não posso mais.

domingo, 12 de maio de 2013

Agora fazia só o que fazia com eles.


Não sabia se a perdição veio com eles
Ou se nasceu nela
Bebia vinho
O céu algodão, doce
Porque não interessa como, o desejo é sempre doce
Estava triste, mas conseguia ser feliz por ser.
Gostaria de ter.
“As possibilidades de felicidade são egoístas meu amor”
Achava que ia morrer cedo
Mas era ele mesmo quem navegava pela pluma agora, em qualquer momento melancólico que se permitisse ter.
Teu lado negro despertado,
Hoje leu poesia de Baudelaire
Nunca soube escrever o nome dele mesmo.
Hoje queria ele e o outro.
O calado.
Vamos ouvir música brasileira gente, pelo amor de Deus!
“Há meia–hora ventava e tínhamos coragem”.
O fundo do poço que eu tiver que descer, que eu desça logo pelo amor de Deus, que depois tem que subir tudim de novo.

O que restou da Verônica, depois de se juntar com a Amarela.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Bolinha Para Genaro Xavier


Então eu vou é escrever, que escrever é o que me resta, e sempre resta algo, graças a Deus.

?Será que algumas pessoas simplesmente nasceram para a solidão?

Eu poderia ouvir música até morrer. Eu morreria feliz ouvindo essa música do Incubus. E Suassuna que me desculpe, mas lixo cultural é o cu (ânus) dele. Que foi o mito que me apresentou à grandeza da música. Eu adoro mudanças, foda-se eu ser fixa, eu adoro mudanças. Ó insustentável leveza do ser! Hoje eu não poderia viver sem um lápis preto.
E eu lá tenho culpa, se isso sai assim?
Menina eu não sou nem obrigada . FIM.

domingo, 5 de maio de 2013

Você é como um labirinto pra mim, que eu sei entrar e sei sair, mas sempre me perco no meio.



Eu vejo duas de você, uma que é meiga e que eu amo, e outra que é fria, que me dá medo. Eu não sei, tudo muda muito sempre. E tu acredita em tudo que tu lê? Quando eu digo que tu é a última que eu pegaria da festa, não é verdade, é porque eu sei que tu fica zangada. Eu te amo. Infelizmente eu não fui recíproco aos seus sentimentos. Mas saiba que tu foi a que chegou mais perto. Então eu vou andar com a minha namorada na praça pra tu ver. Minha namorada é você. Pra mim, não tem nada no mundo acima de ti, no meu coração, tu sempre veio primeiro. Eu queria era os seus olhos com aquele brilho pra mim de novo, e eu não vejo mais. Quando eu não vejo mais, morro. Eu te amo.
Filho da puta.
Vou ouvir rock mesmo. New Metal sem dó nem piedade, que tem horas que a minha dor não cabe em nada e eu grito.

Noite de ninguém, Rio.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sombra


Gosta de caçar, ainda mais quando tem chance. É que o presente é o instante e o instante é muito difícil de avaliar. Estranha alguns ventos soprando contra. O ciúme é como um verminho. Ele vem de uma palavrinha infame, no primeiro instante, avaliando rápido é infantil. Mas depois ele vai viajando por todo o corpo, pelas veias do sangue e se apoderando de você. E se você precisa saber e não consegue porque não daria o braço a torcer, então, tu te torna tuas veias e tua pele vai pra dentro de ti. Quis isso de certa forma, não se preparou. Quando quer, respira de tensão. O desejo seria igual ao gozo? O verdadeiro desejo, o que - nunca - uma vez –tinha sentido. O ciúme é consumo do ser. Não quer sentir ciúmes dele. Quer lamber o corpo, beijar o lábio de cima, abraçar as costas e deslizar as unhas.

Uma noite de som calmo e certa tranqüilidade absurda, janeiro de 2007.

Adeus, viúva morta

Viúva morta, segue de preto cabelo escovado passa água de colônia passa batom vermelho ou violeta viúva morta, eu não te amo viúva m...