terça-feira, 12 de junho de 2012

Namorados

         Minha avó foi abandonada com 8 filhos. Ela nunca mais se deixou apaixonar por outro homem. Contam pra mim a história do dia que ela entendeu que ele não voltaria, foi uma noite em que ela ficou na calçada sozinha esperando, esperando, esperando... sentada imóvel numa cadeira com olhos vidrados no lugar de onde ele viria. Mas amanheceu e ele nunca mais voltou. Então ela entrou em casa sem dizer nada e no dia seguinte começou a viajar pra vender confecção pra sustentar os filhos e a si mesma. O que acho mais estranho sobre a minha avó é a alegria que ela mantém até hoje. Ela faz questão de ser feliz, mesmo tendo sido ferida de maneira irremediável. Digo irremediável porque ela tinha uns 30 anos quando o amor em forma de homem saiu da vida dela. E  vejo fotos, ela era linda, linda...
         Eu, por minha parte abandonei tudo pelas luzes da ribalta. Em relação a isso eu não sou solidária nem no câncer. Eu pensei quando criança que nenhum homem me amaria pois era feia e mulheres feias dançam sozinhas. Mas estranhamente, mesmo feia, eu sempre tive todos os homens que quis. Hoje eu que tenho 30 e sou minha avó em dois empregos, das 9h da manhã até as 2h da madrugada. Eu não tenho filhos. Eu tenho amigos. Eu não tenho nada, eu tenho essa alegria magoada de ser eu mesma. Eu tenho um baú imaginário de saudades. Eu não tenho família, eu faço parte de uma quadrilha. A quadrilha da Ribalta. E todos os dias quando as luzes são acesas e eu estou ali, penso: será que tem um amor por aí pra mim? Porque de amar sozinha, ah de amar sozinha já basta.
        Eu sou minha avó sentada na calçada olhando fixamente para o horizonte e olha! Olha! Ele vem, eu consigo ver lá longe a silhueta dele,  ele vem de chapéu, calça de linho, ele vem perfumado e quando me olha... a aurora brilha e cega,  nós sorrimos pois tudo, tudo está bem agora.
       


Adeus, viúva morta

Viúva morta, segue de preto cabelo escovado passa água de colônia passa batom vermelho ou violeta viúva morta, eu não te amo viúva m...