domingo, 22 de dezembro de 2013

A conversa com os meninos de 12 anos

Desceu com tristeza e tédio e foi procurar um lugar tranquilo para acender seu cachimbo, longe de todos. Estava lá, tranquila quando viu os três meninos na trilha que chegava até ela e acompanhou com o olhar os três. Eles vinham desconfiados e olhando para todos os lados e ela sentiu o cheiro de perigo, mas não tinha medo de crianças, ainda mais de 12 anos. Eles passaram encarando ela e olhando pra trás, ela os encarou e olhou junto com eles pra trás e inexplicavelmente os 3 garotos e ela sorriram ao mesmo tempo. Eles passaram, conferindo se tinha alguém na outra ponta também e voltaram até aonde ela estava sentada. De longe, um deles perguntou:
- Ei, você viu dois meninos passarem por aqui?
- Dois meninos? Não, desde que cheguei aqui não passou ninguém.
- É legal aqui, só é perigo alguém te assaltar, não é?
Disse o que parecia mais velho, o pretinho. Agora todos estavam na frente dela, com certa distância e desconfiança:
- Não, mas hoje estou com Deus, nada acontecerá comigo.
Eles se aproximaram e sem explicação aparente sentaram perto dela.
- Vocês moram aonde?
- Na rua do fim.
- Rua do fim? Que nome estranho pra uma rua.
- É porque lá não tem saída.
Disse o mais bonito, que parecia o do meio.
- Vocês são irmãos?
- Não, só amigos.
- E a idade de vocês?
Todos responderam 12.
- Vocês estão mentindo ou é verdade e os 3 tem 12?
Eles riram e confirmaram os 12 anos.
- Tu quer uma manga?
Perguntou o mais novo.
- Essa manga é da boa, daquelas que você bate na parede, não é? Aonde vocês pegaram?
- Ali atrás, tem uma mangueira.
Ela riu.
- Eu quero. Vocês estavam roubando manga?
De repente o que parecia mais novo ficou muito incomodado. O do meio levantou-se pegou três pedaços de azulejo. O pretinho mandou:
- Isso não serve pra nada.
- Mas corta!
- Vocês namoram?
Eles riram.
- Não, vocês são muito novos pra namorar.
- Ora, se a gente já pega é as meninas. Tu mora aqui perto?- disse o mais novo.
- E porque você está aqui?
- Sim, do outro lado. Minha mãe estava doente, estou aqui porque não quero fumar na frente dela.
- O que ela tem?
- Ela teve um avc, sabe o que é isso?
O do meio imediatamente disse que sim.
- É, coisas ruins acontecem o tempo todo.
- Vocês moram com os pais?
- Minha mãe me botou pra fora de casa- disse o pretinho.
- Mas quem é tua mãe mesmo, é a Rosa ou a Maria?- quis saber o bonito.
- Quem me teve foi a Maria, mas quem me cria é a Rosa.
- Todo dia matam um na nossa rua.
- Como assim?
E o mais novo começou a contar a história.
- O cara tava dirigindo o carro e a menina veio na frente, ele não conseguiu frear e bateu nela. Ele pediu desculpas. Depois ele voltou lá porque tinha esquecido a bicicleta, ele veio com um facão porque achava que iam fazer alguma coisa com ele. E aí um dos caras da família da menina pegou um revólver e matou ele.
- Nossa, mas aconteceu alguma coisa com a menina?
- Não.
- Mas então a reação dele foi exagerada. Vocês são muito novos pra passarem por isso, vocês já viram crimes! É um mundo aonde acontecem muitas coisas ruins. A gente é que precisa se manter forte pra não ficar ruim também.
Nessa hora o que parecia mais novo levantou-se.
- Que horas são?
- Não sei.
- Olhaí no teu celular.
Ela tirou o celular da bolsa e falou as horas. Ficou olhando pro mais velho. O mais velho também era belo, com sua cor morena. O bonito disse.
- Você gostou dele, não foi?
- Sim.
- O que você fez pra sua mãe te por pra fora?
- Ele faz umas coisas! Ele fuma cigarro, fuma até maconha.
Ela então ofereceu seu cachimbo pro pretinho. Que aceitou e fumou.
- Fumar não faz bem não.
Ela disse e eles se olharam bem dentro dos olhos. O mais novo disse:
- Vamos embora!
- Peraí um pouco- disse o pretinho.
- É vamos ficar mais um pouco- disse o bonito.
Mas o mais novo não queria mais ficar.
- Eu já vou, eu já vou, vamos?
- Tu tem tatuagem?- perguntou o bonito.
- Sim, um own, significa o primeiro som do universo, porque eu gosto de música.
- Que música tu gosta?
- Hoje eu gosto de blues. É uma música densa, com muita guitarra, foi feita pelos negros americanos, vem da escravidão. Vou por uma pra você ouvir. Essa é a Nina Simone, ela era uma negona que fez uma revolução, sem armas, com música.
- Eu vou embora, vocês não vem?
- Eu gosto de rap americano. Quer outra manga?- perguntou o bonito.
- Sim.
- Eu vou embora, vamos?
- Vou ficar mais um pouco, eu acompanho vocês.
Então o mais novo e o bonito foram. O pretinho não foi.  Ficaram se olhando em silêncio um tempo.
- Como foi a vida da Rosa, você sabe?
- Não.
- Eu te digo isso porque isso ajuda a gente a entender as pessoas. O que fizeram delas pra elas serem como são.
- Tu tem quantos anos?
- 32. Então nossa diferença é de...
- 20 anos. Tu tem filhos?
- Não.
- Por quê?
- Porque eu só quero ter um filho quando eu puder dar tudo pra ele.  Tem muita gente no mundo, muita criança em orfanato. Eu só vou ter um filho quando encontrar um cara que queria ser pai, e talvez eu adote.
- É, tem gente que pensa antes de fazer as coisas.Você tem marido?
- Tive. Vamos embora?
- Tu já quer ir?
- Você não quer?
- Vamos conversar mais um pouco.
- Tu gosta de estudar?
Ele fez um sim com a cabeça.
- Mentira, gosta nada.
- Meu colégio só tem vagabundo.
- Mas você gosta de alguma coisa?
- Só de matemática.
- É uma saída.
- Tu estudou até que ano?
- Eu me formei. Tu já viu algum crime?
- Mataram meu amigo, eu tava sentado do lado dele. Depois o cara tentou me matar, mas a arma falhou. Eu corri e me escondi. Ele tomou um tiro no peito.
- Tu viu ele morrer?
- Sim.
- E como é ver uma pessoa morrer?
Ele ficou olhando com uns olhos expressivos.
- Normal.
- Então você teve uma arma apontada pra sua cabeça?
- Duas vezes.
- Acontece muita coisa ruim na vida, mas acontece muita coisa boa também. Minha mãe se curou. Acontece. Vocês tinham vindo aqui pra me assaltar, não era?
- Ham?
- Vocês iam me assaltar?
- Não, eu quero ficar longe disso, eu que fui assaltado esses dias, levaram meu celular.
- Nunca conseguiram me assaltar. A polícia chegou uma vez e na outra eu não tinha nada. É muito ruim, a gente sente raiva.
- Eu não sinto raiva não.
- Eu vi meu avô morrer, mas foi de doença. Não adianta você pode nascer na melhor ou na pior família, coisas ruins vão acontecer. Esse é o mundo de expiação e culpa. Deixa, to falando besteira.
- Não, fala...
- Estamos aqui pra pagar carmas e evoluir pra um plano melhor.
Ele fez uma cara de que isso fazia todo o sentido.
- Reze pelo seu amigo, ele morreu cedo, significa que ele já evoluiu. Quer dizer, não sei se isso se aplica quando te matam.
Ele riu.
- Deram vários tiros de 12 em outro colega meu. Ele não morreu, mas ficou com uns buracos assim no peito. Só porque era uma 12.
- Doze é um tipo de arma?
- É. Agora aquela família do rapaz que mataram está perseguindo ele.
- Mas aí vira uma guerra.  Sabe o que te falei sobre a matemática? Eu já morei numa rua assim perigosa como a sua, tinha tiroteio e nos escondíamos debaixo das coisas. Mas eu saí de lá. A matemática pode te tirar de lá. Você precisa estudar pra tirar sua família de lá.
Chegaram numa encruzilhada.
- Você vai pra onde?
- Você vai por aqui?
- Sim.
- Então vou com você até lá em cima.
- Como é teu nome?
- Vítor.
E subiram em silêncio até ela chegar em casa. Ela ficou com vontade de dar um abraço e um beijo nele. Mas disse apenas " thau Vitor, foi um prazer te conhecer". E entrou com duas mangas nas mãos.






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domingo, 6 de outubro de 2013

Manifesto de amor usurpado de Edileusa Cotonete

- Eu descobri que tens um novo amor! Eu sei o nome! Tem  pulmão, respira! Tem boca e te beija! Tem corpo  e contigo dorme!Tem cor, tem altura e peso, teu novo amor! Ai, sangue que escorre de mim! Teu novo amor! E tão rápido tudo que desejei, no colo de outra, e tão rápido tudo que nem foi meu, já é de outra? Você outra, que usurpou meu amor, meu amor é tão lindo, como não ceder aos seus encantos? Mesmo assim é meu e todas aquelas que tiveram seus amores usurpados por uma época, por uma fatalidade ou por uma vagabunda sabem muito bem, o que é de César, volta a César e o que é amor, se configura em amor, e não pode ser de outra forma. Uma vez que é meu amor, sempre será e  para mim voltará. Beribecancatabanda, beribecancatabanda, beribecancatabanda, KIKERA!

domingo, 25 de agosto de 2013

Os 32 anos de vida

Esse ano eu encarei a chegada do aniversário com cautela. Tentei passar despercebida. Mas estou aqui escrevendo sobre eles, os 32, pois para mim nunca me parecem suficientes os momentos. Em alguns aspectos a minha racionalidade e meu coração estão exaustos de tanto divergirem. E meu duplo já passou por algumas panes, quedas e consertos.
Estamos mais próximos do que queremos ser na década de 30?  Eu ouvi que aos 30 sabemos com precisão quem somos. E nessa véspera de aniversário, um dia  não sei exatamente provocada e atravessada  por quais acontecimentos terríveis, acordei lúcida como se já tivesse passado minha vida toda e soubesse cruelmente de tudo antecipadamente. Não tenho medo da vida. Tenho medo do amor não voltar pra minha vida, mesmo que quando apaixonada  me sinta apavorada e sempre pisando em chão de fogo.
Nunca achei que a vida seria felicidade eterna, não acho a felicidade possível se todos somos responsáveis por tudo e se, em milhões de anos, a humanidade nunca conseguiu avançar sem oprimir, destruir e escravizar, seria muito improvável que justamente na minha existência, na época ínfima historicamente em que eu faria parte desse mundo, que a humanidade encontrasse a utopia. Mas a minha avó tem uma teoria que achei mais inteligente aplicar à minha vida: a de que ela, a vida, há que ser de alegria. Então por piores que sejam as notícias, encontrarei no final do arco-íris um amigo para brincar.  Na verdade isso é o melhor desse texto, agradecer aos amigos, pois tenho amigos que são como jóias raras e maravilhosas. A propósito, obrigada.
Aos 32 acho minha vida uma bagunça, não encontro solução para minhas questões,  tudo que achei que estaria estabilizado nessa idade está pendente: minha carreira, minha saúde, minha família, meu amor; e ao mesmo tempo, sei de tudo. Sou o próprio Deus  e estou  tranquila, como se acordasse de um sono de remédios brancos.

domingo, 14 de julho de 2013

O rosto

      Meus olhos não sentem tua imagem cerrada e cortada em pedaços histriônicos.  Meu coração não bate na tua cadência , por mais que eu tente, recomece e insista. Não  me dê o rosto! Prefiro um capuz cinza e azul.
      Vou-me em boa hora. Eu vou rápida e tranquilamente cuidar dos meus, juntando pedaços de mortes refinadas. Contorcida, amei dois que estão em outros braços. E agora tenho nomes e rostos. E o meu amor? Não me dê um rosto! Você quebrou a perna e ficou ali me culpando como se não tivesse acabado de quase me matar. Corri antes de você. E o meu amor? Entendi antes de você. Aonde enterrou seu amor? Não posso mais. Sou frágil. Não posso mais.

domingo, 12 de maio de 2013

Agora fazia só o que fazia com eles.


Não sabia se a perdição veio com eles
Ou se nasceu nela
Bebia vinho
O céu algodão, doce
Porque não interessa como, o desejo é sempre doce
Estava triste, mas conseguia ser feliz por ser.
Gostaria de ter.
“As possibilidades de felicidade são egoístas meu amor”
Achava que ia morrer cedo
Mas era ele mesmo quem navegava pela pluma agora, em qualquer momento melancólico que se permitisse ter.
Teu lado negro despertado,
Hoje leu poesia de Baudelaire
Nunca soube escrever o nome dele mesmo.
Hoje queria ele e o outro.
O calado.
Vamos ouvir música brasileira gente, pelo amor de Deus!
“Há meia–hora ventava e tínhamos coragem”.
O fundo do poço que eu tiver que descer, que eu desça logo pelo amor de Deus, que depois tem que subir tudim de novo.

O que restou da Verônica, depois de se juntar com a Amarela.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Bolinha Para Genaro Xavier


Então eu vou é escrever, que escrever é o que me resta, e sempre resta algo, graças a Deus.

?Será que algumas pessoas simplesmente nasceram para a solidão?

Eu poderia ouvir música até morrer. Eu morreria feliz ouvindo essa música do Incubus. E Suassuna que me desculpe, mas lixo cultural é o cu (ânus) dele. Que foi o mito que me apresentou à grandeza da música. Eu adoro mudanças, foda-se eu ser fixa, eu adoro mudanças. Ó insustentável leveza do ser! Hoje eu não poderia viver sem um lápis preto.
E eu lá tenho culpa, se isso sai assim?
Menina eu não sou nem obrigada . FIM.

domingo, 5 de maio de 2013

Você é como um labirinto pra mim, que eu sei entrar e sei sair, mas sempre me perco no meio.



Eu vejo duas de você, uma que é meiga e que eu amo, e outra que é fria, que me dá medo. Eu não sei, tudo muda muito sempre. E tu acredita em tudo que tu lê? Quando eu digo que tu é a última que eu pegaria da festa, não é verdade, é porque eu sei que tu fica zangada. Eu te amo. Infelizmente eu não fui recíproco aos seus sentimentos. Mas saiba que tu foi a que chegou mais perto. Então eu vou andar com a minha namorada na praça pra tu ver. Minha namorada é você. Pra mim, não tem nada no mundo acima de ti, no meu coração, tu sempre veio primeiro. Eu queria era os seus olhos com aquele brilho pra mim de novo, e eu não vejo mais. Quando eu não vejo mais, morro. Eu te amo.
Filho da puta.
Vou ouvir rock mesmo. New Metal sem dó nem piedade, que tem horas que a minha dor não cabe em nada e eu grito.

Noite de ninguém, Rio.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sombra


Gosta de caçar, ainda mais quando tem chance. É que o presente é o instante e o instante é muito difícil de avaliar. Estranha alguns ventos soprando contra. O ciúme é como um verminho. Ele vem de uma palavrinha infame, no primeiro instante, avaliando rápido é infantil. Mas depois ele vai viajando por todo o corpo, pelas veias do sangue e se apoderando de você. E se você precisa saber e não consegue porque não daria o braço a torcer, então, tu te torna tuas veias e tua pele vai pra dentro de ti. Quis isso de certa forma, não se preparou. Quando quer, respira de tensão. O desejo seria igual ao gozo? O verdadeiro desejo, o que - nunca - uma vez –tinha sentido. O ciúme é consumo do ser. Não quer sentir ciúmes dele. Quer lamber o corpo, beijar o lábio de cima, abraçar as costas e deslizar as unhas.

Uma noite de som calmo e certa tranqüilidade absurda, janeiro de 2007.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Noite dúvida


Estava decepcionado. Ficava dia sim, dia não. Alguém de sabedoria disse para ficar quieto, mas seu impulso não era esse. Em alguns momentos não via nada. Tinha virado cadastro? Você virou cadastro, pensou e ficou todo azul escuro.
Até que ponto é egoísmo e até que ponto é só a natureza você só saber de si, na verdade você só tem como saber de si porque só você está 24 horas com você mesmo.
O que pensou foi que por mais que quisesse, ação não era tudo? E como tinha pavor de forçar alguém a fazer o que quer que fosse, e como tinha o medo melodramático de qualquer coisa dar errado, e como era simplesmente fraco e preferia sofrer no canto, do que arriscar qualquer coisa, e não tinha mesmo a menor capacidade para a conquista de ninguém que realmente quisesse, ou de alguém que o amasse assim mesmo, ou então era isso, cem anos de solidão. A resistência o dominava, hoje dormia infeliz, parecia a deixa, plageava Genaro Xavier, que nem criatividade para ter pensamentos puros tinha.

terça-feira, 30 de abril de 2013

As Mínimas coisas que se passam dentro de você: Dedicado a Celina Sodré



Quando ela chegou, lhe acorrentaram e disseram:
È importante o cd ser desligado no exato momento em que acaba aquela música que você não vive sem e começa aquela outra música que você considera insuportável. Para não te causar nenhum desprazer. As pastas tem que estar todas limpas, novas, e pretas. Se você tivesse dinheiro compraria as melhores e milhões de adesivos, mas você não tem, então faça parecer sóbrio, nada de faniquitos. Você não pode caminhar um quarteirão, se você tiver um real no bolso, use para o seu prazer. Não, você jamais faria outra dançarina. Você escova o dente toda vez que come, a não ser que esteja sozinha e vá dormir e esteja bêbada, e mesmo assim você escova. Ou tenha bala e coca-cola e você esteja muito confiante. Você absolutamente não pode passar por isso. Fotos você tira sempre porque gostaria de aprisionar o tempo. Você escreve compulsivamente num diário. Não consegue dormir se estiver com alguma angústia e não escrever. Morre e não dorme. Não lhe é permitido sonhar com casamento, príncipes encantados, mulheres perfeitas, filmes de terror, ou de espíritos. Não, absolutamente você não pode viver sem música. Os cds devem ser guardados, todos eles, até aquele que aparecer na sala quando você estiver atrasada para o trabalho. Você não pode ficar sem seu quarto. Você absolutamente não tem estrutura para se dividir 24 horas por dia. Nem com Deus. Você é exagerada e dramática. Acostume-se com a frase. Você pode viajar oito horas por amor, mas não pode ficar um minuto quando não funcionar. Volte no mesmo instante. Corra. Para não ter nenhuma dor. Dor você não agüenta bem. Não suporta bem. E não queremos ser essas pessoas insuportáveis, que vivem com pena se si. Você aprende com precisão, aquele passo em que estiver insegura e alguém disser “mas esse você não consegue”. Você estuda, nem que seja em segredo. Talvez nunca fique bom e você nunca mostre. Você não pode ter o guarda-roupa arrumado porque todas as vezes que você sai, o bagunça novamente. Não, você não pode errar. Você não gosta dos vaqueiros na estante, mas usa sempre porque representam a amizade e a sua terra. E o Daniel vai reclamar. Você não pode ter ex-namorado com razão. Toda vez que isso acontece, você destrói logo tudo, pra se sair bem na maldade também. Não, ninguém pode falar alto com você. A não ser é claro que você o respeite o suficiente. O cabelo tem que estar bonito. Você pode aguentar um ano feia. Com produtos de cabelo você pode gastar dinheiro. Livros. Cds. Bandeira verde. A não ser que realmente não tenha nem o da volta. E com comida também, não interessa. Para o seu prazer imediato. Claro, você não aceita bem as mudanças que não são causadas por você. Limpa, sem manias, de família. Covarde. É importante ter alguma coisa suja sempre. Você sempre pode estar errada, é um fato e você só o aceita porque absolutamente sabe que é um fato. Você não precisa ser a melhor quando você ama as pessoas. E elas obviamente amam você. Pois sem reciprocidade não há negociação. Fotos você tira sempre porque gostaria de aprisionar o tempo. Reciprocidade. Você sempre sonha com uma banda de rock e um palco com milhões de pessoas nem que seja por sonhar. Sonhar é permitido. Você ouve a Elis e tem esperança. Você absolutamente não pode pensar nas coisas tristes, não pode deixar que elas tomem espaço do teu dia, que teu dia é teu tempo, e teu tempo é curto. Quando acontece algo inevitável feito o amor que não obedece a seu ninguém, você me dá pena. E nós sabemos como pena é uma palavra detestável. Você fica marcada e jamais se joga de novo. A não ser que seja forçada a, e então dá o melhor de si, mesmo que morra. Você olha para cima, para o céu, para o que ainda tem que ir buscar, para o que está faltando. Você sempre quer tudo. Não, não vai ter tudo e está proibida de pensar sobre isso também. Você dá sempre um jeito de tornar as situações mais confortáveis, nem que seja com um disck-man. Você aceita desafios monstruosos com a maior felicifelicidadedade. Você aceita as opiniões cada vez mais, só porque sabe que só tem a ganhar com isso, porque já experimentou. Seus motivos são sempre egoístas. O que você não sabe e tem a ver com o que você quer, você vai atrás de descobrir. Se não for algo que valha a pena o esforço, você não faz. Você não tem absolutamente problema em fazer esforço, a questão é a reciprocidade. O chaveiro demorando a abrir, irrita você. Procurar coisas irrita você. Esperar IRRITA você. Por isso ou você é pontual ou chega depois, nunca o tipo de pessoa que chega antes, a não ser que você esteja com medo. Música ruim irrita você. O som das pessoas dizendo que se trata de música irrita você. Bons filmes, livros longos, curtinhos, cheiro de livro novo, revistinhas em quadrinhos, musicais, natureza, tardinha de praia, roda de amigos, comidinha, sexo com desconhecidos e delírios. Claro que você bebe, é para seu bel prazer. Sempre que claro você sabe do que te espera no outro dia. Se perde algo importante, como diria a Phoebe de Fassbinder “então tu tá fudido”. Aqui no ponto da permissão faço vazio. Que ninguém se expõe auto - impiedosamente assim. Não você absolutamente não vive sem janelas. Pelo menos uma. Você adora a palavra absolutamente e quase nunca pode usar. Você não gosta de viver se justificando. Você pode dormir em qualquer lugar. Você não consegue dormir na claridade. As janelas precisam ter cortinas, para momentos assim. Você nunca pode esquecer o dinheiro, a carteira, os óculos, a chave, as pilhas, o disck-man e de trocar o fone. Você não pode odiar ninguém porque é uma perda de tempo odiar. Pode desejar a morte de algumas pessoas, mas nada grave. A morte é uma coisa boa, é mudança. Piadas você se permite de arriscar. Em algum dado momento acredito que você se tornará autofágica e se engolirá.
Verônica.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Chão



Deitada no chão
caindo debaixo do mar
ventando feito demônio
o precipício se fechando cada vez mais
no silêncio
minha alma dentro de uma caixa de sabão
se esgueirando feito cobra, chorando.
Tristeza filha da puta apoderada de mim.

A aventureira



Jogou-se do penhasco, ouviu o barulho da polícia lá em baixo, feito abutre.
Interprete como quiser. Que todo mundo é livre. Todo mundo é livre pelo amor de Deus.
Não conseguia ficar em lugar nenhum. Misturou tudo por dentro. Uma delícia por dentro.

Diana lokona, dezembro 2006.


sábado, 6 de abril de 2013

E Hoje, a eterna dúvida



O desejo nunca é seco, é sempre molhado e doce, mesmo que não seja.
A carência de sentido lhe anima. Quando fica assim feito bicho, só música acalma. Música e triste céu. Para ela conseguir chorar a profundidade da vida. Ela não consegue sempre e espera que nunca saibam suas razões.
Acontecia de novo e tudo morria no outro dia. O todo volta a um minuto antes em play black imediato. “Eu vi a cara da morte e ela estava viva”.
DOR Quando você foge de mim é tão nítido. E me dói tanto que você fuja. Fica doendo.
Normalmente fugia antes, mas algumas vezes fugia um segundo depois. Essas eram as piores porque aí percebia que nunca tinha fugido, que nunca realmente conseguia fugir. Manteve tudo camuflado. Se pudesse pulava sobre ele, lambia. Deslizava nua pelo corpo todo suado dele de tanto machucar o dela. O Dele. Dela. Sentia que tudo saia de controle, nem sempre controlava tudo. Estava com sons de violinos e guitarras elétricas e o toque dele lhe embaçando toda. Não podia chegar perto demais. Algumas vezes não sabia se estava enganado a si para o bem ou para o mal.

Noite triste, dezembro de 2006.

domingo, 17 de março de 2013

A Hora do Remédio


É seu dia hoje. De mais ninguém. Desejo pingando de frio. As mãos se derretendo o corpo todo escorrendo, o cabelo assanhado. Não consigo falar porque minha garganta fechou. Sempre tratei isso como se não fosse comigo e tratei de usar a meu favor. Sinto que se eu te tocar vou continuar. Eu não consigo. Eu desisto no primeiro toque. Eu espero nua. Se existisse lama eu rolaria, devagar. “Time goes by so slowly”. Eu não deixo de ser insegura nunca, eu vivo caindo dentro e fora do teu amor. Não consigo ter a iniciativa em cima da imprevisão. A mínima que seja, a não ser que eu te possa com força bruta. Bruta de minha mente, bruta de minha voz, bruta de mim mesmo. Te amo mais.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

About. Laço de fita bem amarrado, nó por baixo. Him.



Para um dos maiores.

Quando ele sorria parecia que o mar inteiro virava chocolate. Ela o considerava a coisa mais linda desse mundo. “Ele seria capaz ainda de ser sensível, de chorar comigo”, dizia. Em pouco tempo ele a conhecia em tudo, com todas as partes dela. Não lhe falava muitas coisas e ela ficava constantemente sem voz diante de como ele a sentia. Aprendeu música no lugar dela, para confortá-la e amenizar a decepção que era ela mesma. E ela sempre tentava parecer melhor do que estava pois não suportaria vê-lo pensando que ela fosse um fracasso. E só de olhar pra ele já ficava com os olhos da cor do arco-íris. Ele obrigava-se a assistir clips velhos do Michael Jackson para agradá-la. Quase nunca pedia nada, mas quando pedia era caro e ela dava de qualquer jeito. Sempre questionava, lhe criticava, tinha outra opinião. Arrependia-se e pedia desculpas. A timidez serpenteava nas costas dele feito o mar. Fragmento de minha alma. Ele, dotado de uma tristeza tão profunda que a fazia querer atingir o fundo só para conseguir entender o que ele havia enxergado. Pelo canto do olho ela sabia o que se passava. Fazia ameaças quando brigava. Vociferava. Usava e abusava das monossílabas, principalmente “nam”. Comprava cd de punk só porque era música feliz. Ia dormir com ela para tirar dúvidas sobre as outras mulheres. Lia quadrinhos. Acontecia de ser muito cruel. Abria a boca cheia de comida e parava até que ela olhasse. Deixava um bloco de notas na tela do computador. Cuidava da mãe pra ela. Cheirava a suor. Apareceu com um pearcing na língua um dia qualquer. Abraçou a festa toda. Não traiu. Bateu nela, claro. Gravou um cd com músicas para ouvir “When I´m alone”. Escreveu um bilhete. E enquanto ela o defendia de perna quebrada, ele começou a amar outra, de leão.Os reinados devem ser respeitados.

Pequeno Conto da Dor de Garganta



Se acontecer de novo e de novo e de novo, e se a minha cruz for essa? Eu não quero carregar. Dente. Porque minha garganta é um dente doendo, infernizando a tua vida.
Não sou complicada.

Amarela, dando língua uma primeira vez.

Noite de Brisa



A Brisa é o momento em que a Deusa te faz um carinho.
Hoje não consigo escrever nada amarrada. Estou em estado delicioso de revolta. Puro entretenimento. Você adorava essa música... “ you can try to stop me , but it won´t do a thing, no matter what you do, i´m still gonna be here” você tinha a letra escrita na parede do teu quarto. Tinha muita coisa escrita na parede do teu quarto que eu
nãovereimais a não ser na minha cabeça
nunca mais verei com aqueles olhos mágicos. Teu labirinto-quarto. Teus bonecos antigos, imundos, feios e engraçados e teus pôsteres na parede, expostas as pernas das mulheres, a maquiagem dos homens, os momentos de erro, todos grudados, os momentos de erro. Terra. Fotos coloridas e páginas rasgadas, declaração de amor com sangue, declaração de amor com faca, cigarro e queimadura. O extremo de tudo. A simples conversa, o dormir abraçado, o dizer eu te amo antes de virar pro lado e agüentar se tivesse calor e agüentar se sentisse dor. E gostar de luz da televisão velha, e ler tudo de você. Eu te cuspi, te despi e te dancei. Você consegue ouvir minha risada? Eu acho que consigo ouvir uma gargalhada aguda tua bem longe.

“You can´t believe it, you can´t conceive it, and you can´t touch me, ‘cause I´m untouchable, and I know you hate it, and you can´t take it, you´ll never break me, ´cause I´m unbreakable.”

Dirty Diana, noite em que a quintura de Fortaleza bateu na janela ao lado do Cristo, dezembro, 2006.

Noite no nariz



Poderia ficar um por último. Poderia ficar depois da nossa bondade, depois dos vasos encantados. Parece a voz dela, a dona. Mas não deve ser. Tudo deve acabar por aqui. Eu tenho mais. A saliva escorre pela perna. De-lí-ci-a. Não sei se a separação é assim, mas se demorar mais, que seja assim, delicioso. Eu me contento nesse momento em não te ver. Em amar a tua voz. Em amar você. Por mais que saiba que você possivelmente será mais forte, mesmo sem ter essa preocupação. E por isso mesmo será mais forte, não se mentirá mais forte, como eu faço agora, nesse instante.

Verônica.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Eu preciso de algum remédio que me faça aparecer



É possível que durante a vida a gente vá amando cada vez mais profundamente?
amor gritando, batendo em portas feito o mar, arrastando tudo, amor dançando uma primeira vez no palco, amor de bengala chorando baixinho com as mãos e os dedos machucados,
Será que sempre vai aparecer alguém que você ame mais profundamente?
amor compondo uma música que não faz idéia que ficará eterna,
MAR virando ARTE em MÚSICA,
, a r t e,
musas da Terra do Nunca dançando nuas
(amor quando consegue fazer uma quinta e uma terça na voz)
amor quando ele não consegue e viaja oito horas chorando, gasta tudo que tem, pra passar uma semana que se revela tão... qual seria a palavra mais dolorosa do mundo?
Eu tenho medo de falar-amor,
um dia pode te condicionar por uma vida.
Amor quando
TEU AVÔ MORRE
VOCÊ PERDE A FÉ.
Eu dou cambalhota até sem perna.

Amarela.



Adeus, viúva morta

Viúva morta, segue de preto cabelo escovado passa água de colônia passa batom vermelho ou violeta viúva morta, eu não te amo viúva m...